A boa vontade não é então o suficiente para que o amor flua. A ajuda profissional não se deixa levar pelo envolvimento em um relacionamento. Isso pode atrapalhar fazendo com que o ajudante seja capturado no emaranhado do ajudado. A postura básica da ajuda é a de reconhecer no outro a capacidade de lidar com sua própria realidade e história. O ajudante se torna uma lanterna para tal, sem se meter, dar soluções ou dizer o que é melhor. Um bom ajudante somente ilumina.
Quem descreveu os princípios básicos que norteiam a ajuda foi Bert Hellinger. Sua experiência de vida permitiu que ele criasse uma visão sobre o que é ajudar outra pessoa em termos profissionais. Ele escreveu um livro sobre suas percepções e conclusões encontradas em sua carreira como terapeuta.
Ele percebeu que a ajuda é mais bem sucedida quando os envolvidos desenvolvem certas posturas. Nelas, o ajudante não martiriza ou diminui o ajudado. Se este acaba assumindo esses papéis, acaba fechando as opções possíveis que tem para encontrar bons caminhos de vida.
No livro As Ordens da Ajuda, Hellinger aponta algumas questões para se prestar atenção quando alguém se coloca no papel de ajudante profissional como médico, psicólogo, terapeuta, etc. Nele, ele descreve leis ou ordens para que a ajuda seja bem sucedida. O conhecimento dessas ordens traz maior eficiência para as diferentes formas de ajuda.
As ordens ou leis da ajuda são 5.
Ordem da ajuda 1
Dê apenas o que tem, pegue apenas o que necessita.
As desordens ocorrem quando:
- O ajudante tenta dar o que não tem;
- Quando quer tomar o que não precisa;
- Quando espera ou exige da outra pessoa o que não pode dar;
- Quando tira a responsabilidade de algo que ela precisa carregar.
O dar e o tomar tem limites. Ao ajudante cabe desenvolver a arte de perceber isso e respeitá-los. Precisa também identificar quando precisa renunciar a ajuda através de humildade.
Ordem da ajuda 2
Submeta-se às circunstâncias e reconheça a realidade e limitações do lugar de ajuda. Reconheça no que é possível ajudar. Somente intervenha na medida que as circunstâncias permitirem.
As desordens ocorrem quando:
- há negação ou não concordância de circunstâncias;
- esforço na ajuda a ponto de enfraquecer alguém, seja a si mesmo ou o ajudado.
Essa ajuda liga-se ao mesmo tempo a sobrevivência e a evolução. Porém, quando as circunstâncias da ajuda são desconsideradas ou alguém se recusa a admiti-las, a ajuda é condenada ao fracasso.
Ordem da ajuda 3
Coloque-se diante do outro como adulto reconhecendo nele as possibilidades que ele tem para alterar seu destino, sobrepujar as dificuldades. Crie um campo onde ambos fiquem fortes para avançar para a solução.
As desordens ocorrem quando:
- reinvindicações infantis são permitidas;
- o ajudado é tratado como criança (tanto no limite quando no acolhimento)
- poupar o ajudado de um peso que lhe é próprio tentando aliviar responsabilidades e consequências.
Ordem da ajuda 4
Olhar para o ajudado como único ou como uma peça sem inter-relações com outros elementos dos sistemas que ele faz parte (principalmente o de origem). O ajudante ajuda melhor quando coloca em seu coração todos que fazem parte, com respeito e amorosidade.
As desordens ocorrem quando:
- elementos dos sistemas são desrespeitados ou ignorados;
- elementos-chave (gargalos) não são considerados adequadamente;
- desconexão do ajudado da potência que tem sobre os elementos que o cercam;
- deixar de olhar o que é maior e curvar-se a isso.
Ordem da ajuda 5
Ajudar é respeitar as pessoas pelo que elas são. É lidar com a realidade delas como tal. Isso é feito sem envolvimento emocional fora de controle, sobretudo com o ajudado frente ao problema que ele enfrenta.
As desordens ocorrem quando há:
- julgamentos;
- condenações;
- indignação moral.
O protótipo da ajuda
Aprendemos a ajudar com nossos pais. Lá nasceu o protótipo do que entendemos como ajuda e é a partir de lá que construímos e lapidamos esse jeito. A ajuda nasce praticamente ilimitada e tende a diminuir a medida que os filhos envelhecem. Afinal, a própria realidade se apresenta de forma que os pais precisam servi-la para passar seus aprendizados, direta ou indiretamente, para o novo ser humano. Os limites começam a atritar e com eles os filhos amadurecem.
Muitos filhos nutrem raiva dos pais por causa desse movimento. Ficam presos à ideia de ajuda não notando o papel que os pais tomaram. Preferem manter-se na dependência original ao invés de ir para a vida. É justamente a retração dos pais que os prepara para a vida. Eles de desiludem e podem assim tomar passo a passo as rédeas e agirem por si.
O ajudante pode se manter preso nesse movimento. Alguns ajudantes acham que precisam ajudar todos que lhe pedem ajuda como quem ajuda uma criança pequena e desamparada. Se tornam salvadores se pondo maiores que os ajudados. Estes então perdem força.
Por outro lado, alguns ajudados buscam nos ajudantes a ajuda que julgam que os pais pararam de dar (ou nunca deram). Exigem como que exigissem como crianças. Quando ajudante e ajudado entram nessa dinâmica, se envolvem em uma ligação longínqua e, portanto, inócua. O ajudante precisa então bancar a consciência pesada da negação à ajuda. Só assim escapa dos mecanismos de transferência e contratransferência.
Referências
- https://raizesinstituto.com.br/as-ordens-da-ajuda/
- https://institutokoziner.com/constelacao-familiar-bert-hellinger-ordens-ajuda/
- Ordens da Ajuda, de Bert Hellinger